A fronteira de Ressano Garcia está a funcionar, normalmente, desde a madrugada de hoje. Além da entrada de viajantes, há camiões de mercadoria, que estavam retidos na África do Sul a entrarem para o país. Transportadores de carga dizem que as manifestações impactaram negativamente no seu trabalho.
O movimento fronteiriço em Ressano Garcia está de volta. Isto acontece depois de ter fechado e funcionado de forma condicionada desde o dia 05 de Novembro. Os manifestantes deram trégua e liberaram o caminho.
Os gritos de reivindicação dos protestantes foram substituídos pelo som de carimbo, reabrindo a fronteira de Ressano Garcia aos viajantes.
“A viagem foi boa. Não há nenhum problema do lado sul africano e do nosso lado, também. Escolhi hoje (sábado) para tratar os meus assuntos porque dizem que segunda-feira haverá manifestações. Por isso, estou na fronteira para carimbar o passaporte”, contou Alice Maluana, uma das viajantes que vinha da terra do Rand.
O movimento na maior fronteira terrestre de Moçambique ainda é tímido por receio de possíveis protestos, mas quem fez a travessia dá um bom testemunho.
“Agora, há como passar. Não há nenhum problema na estrada. Até aqui, está tudo bem”, referiu Arlete Mateus, que saía da África do Sul para Moçambique.
E nos dias em que não estava tudo bem neste posto fronteiriço, havia entre 120 a 180 entradas e saídas de viajantes, diariamente.
Estes números estavam muito abaixo dos dias considerados normais, nos quais as estatísticas indicam uma média diária de entradas e saídas de cinco mil viajantes.
O movimento migratório reduziu, drasticamente, porque em dias de protestos, os manifestantes posicionavam-se na estrada, impedindo a entrada ou saída de qualquer viajante por Ressano Garcia.
E este bloqueio, segundo o Serviço de Migração, acontecia no intervalo das 10 às 21 horas. Ou seja, a fronteira só funcionava no período nocturno e madrugada, na ausência dos manifestantes.
Com o regresso à normalidade, os camiões que estavam retidos na África do Sul, por conta das manifestações do lado moçambicano, começaram a entrar no país. No chamado quilômetro quatro, há muitos deles e muitas histórias de quem sentiu na pele os impactos dos protestos.
Ficaram retidos na África do Sul e, do lado de Moçambique, aguardam numa extensa fila para acederem ao terminal de carga, quilómetro quatro, a fim de terem toda a documentação e seguirem viagem.
Muitos dos camionistas se encontram no terminal de carga, chegaram a ficar mais tempo do que deviam na África do Sul por conta das manifestações.
“Todas as greves encontraram-me na África do Sul. A greve prejudicou-me muito porque não deu para carregar a tempo e hora”, revelou Cândido Nhavotso, transportador de carga.
Porque não carregou no período no qual devia, Cândido Nhavotso foi forçado a dormir em condições desumanas por mais dias.
“O meu carro serve, também, de quarto. Dormia nas cadeiras, mas não é fácil. Mas quando não há condições, temos que dormir assim mesmo. Fiquei na África do Sul por quase 21 dias. Nunca fiquei tanto tempo. Geralmente, fico entre 3 e 5 dias e volto. Mas agora, a greve prejudicou-nos muito”, detalhou Cândido Nhavotso.
E os prejuízos serão extensivos ao mercado que, por estes dias, está a receber poucos camiões com mercadoria.
“Eu saí com uns cinco carros. São os que cruzei com eles na fronteira. Isso não é o normal. Deve ser por causa dessas manifestações. Muitos transportadores estão com receio de viajar para África do Sul. Talvez para a semana possam entrar para África do Sul”, revelou Alexandre Zefanias, também transportador.
Os camiões que carregam minérios a partir da África do Sul é que estão a entrar ao país em grande número.
“A fila é enorme e é de mais de 15 quilômetros. São camiões parados e não a andar do lado sul africano. Acredito que hoje (sábado), não são todos que conseguirão atravessar a fronteira”, relatou o transportador Carlos Panguane.
Nos dias de protestos, o terminal de carga de quilómetro quatro recebia abaixo de 500 camiões contra os cerca de dois mil nos dias normais.
Segundo apuramos, cada um dos camiões paga oito mil Meticais por um espaço no terminal a cada três dias. Isto significa que, com a paralisação, o quilómetro quatro arrecadava quatro milhões de Meticais, contra os 16 milhões de dias considerados normais.
Entretanto, neste sábado, a fotografia é de um terminal que está a voltar a funcionar normalmente.
A queima da residência dos funcionários da Migração foi um dos impactos das manifestações em Ressano Garcia. Depois de uma semana, a casa ainda não foi reabilitada e “O País” sabe que já foi feito o levantamento dos estragos.
Mesmo com a residência já queimada, há indivíduos que estão a tirar o que dela tinha sobrado. Janelas, portas e chapas foram arrancadas.
A nossa equipa de reportagem sabe, também, que os funcionários estão a viver em casas de conhecidos na vila de Ressano Garcia, enquanto a residência não é reabilitada.
Aliás, ainda que a mesma vá à reabilitação, os funcionários da migração, segundo apuramos, já não se sentem seguros porque a sua relação com a comunidade ficou azeda por conta de um suposto baleamento mortal de um manifestantes.
Por conta desse clima de insegurança, eles já não se fazem à rua uniformizados por temer serem atacados por supostos manifestantes.
E o local onde foi palco das manifestações está, agora, preenchido pelo comércio informal que, timidamente, volta às ruas de Ressano Garcia.